Por Pedro Meneses

Estas imágenes de Luís Manuel Gaspar son casi todas dibujos con tinta china sobre papel, de pequeñas dimensiones. El hecho de que estén en blanco y negro fue determinado por las opciones gráficas, casi siempre resultantes de presupuestos limitados de las editoras que imprimían los textos. Pero tal vez podamos interpretar en la predominancia del tono grisáceo el mundo algo negro, pero no desesperado, o sea, no profundamente negro, de Adília Lopes. En todo caso, no se trata de un mundo ingenuo, a pesar del humor y de las incursiones paródicas de literatura juvenil.

Luís Manuel Gaspar acompañó la carrera poética de Adília Lopes desde su inicio en los años 80, ilustrando la sobria portada de su segundo libro, El poeta de Pondichéry (1986). Luís Manuel Gaspar participó de la deriva editorial de la Adília Lopes, autora que constituyó casi el pleno de las editoras subversivas y underground durante los años 80 y 90 (& etc, Black Sun Editores, frenesi, Hiena, Mariposa Azual). Luís Manuel Gaspar hará, en 1987, dos ilustraciones (una de ellas como portada, aunque haya sido cortada por falta de espacio) para La Novia de Gafas, conjunto de poemas publicado como opúsculo por lo Projecto Poros localizado en Seixal (ciudad cerca de Lisboa). Otra ilustración que falta referir es la portada de El Escote de la Dama de Espadas, publicado en 1988 por la editora del  Estado Portugués, Imprensa-Nacional Casa da Moeda. Casi tres décadas después, Luís Manuel Gaspar vuelve a ilustrar la portada de una producción poética de Adília Lopes, el opúsculo Comprimidos, que integró el n.º 20 de la revista de poesía y ensayo Telhados de Vidro (2015).

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Estas imagens de Luís Manuel Gaspar são quase todas desenhos a tinta-da-china sobre papel, de pequenas dimensões. O facto de serem a preto e branco foi determinado pelas opções gráficas, quase sempre resultantes de orçamento limitado, das editoras que imprimiram os textos. Mas talvez possamos ler na predominância do tom acinzentado o mundo algo negro, mas não desesperado, ou seja, não profundamente negro, de Adília Lopes. Em todo o caso, não se trata de um mundo ingénuo, apesar do humor e das incursões paródicas por literatura juvenil.

Luís Manuel Gaspar acompanhou a carreira poética de Adília Lopes no seu início nos anos 80, tendo ilustrado a sóbria capa do seu segundo livro, O poeta de Pondichéry (1986). Luís Manuel Gaspar pôde participar da deriva editorial de Adília Lopes, autora que fez quase o pleno das editoras subversivas e underground durante os anos 80 e 90 (& etc, Black Sun Editores, frenesi, Hiena, Mariposa Azual). Luís Manuel Gaspar irá, em 1987, fazer duas ilustrações (uma delas como capa, embora tendo sido cortada devido à falta de espaço) para A namorada de óculos, conjunto de poemas publicado como opúsculo pelo Projecto Poros sediado no Seixal. A outra ilustração que falta referir é a capa de O decote da dama de espadas, publicado em 1988 pela editora do Estado Português, a Imprensa-Nacional Casa da Moeda. Quase três décadas depois, Luís Manuel Gaspar volta a ilustrar a capa de uma produção poética de Adília Lopes, no caso o opúsculo Comprimidos, que integrou o n.º 20 da revista de poesia e ensaio Telhados de Vidro (2015).

La edición original de El Poeta de Pondichéry (1986) es de la responsabilidad de las ediciones frenesi, de Paulo da Costa Domingos (también poeta). La viñeta, para una portada casi solamente tipográfica, posee la sobriedad «clásica» en texto e imagen de una obra en que se refiere a Diderot. Ya aparece en esta portada la serpiente, símbolo clásico del mal y de la metamorfosis.

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A edição original de O Poeta de Pondichéry (1986) é da responsabilidade das edições frenesi, de Paulo da Costa Domingos (também poeta). A vinheta, para uma capa quase só tipográfica, possui a sobriedade «clássica» em texto e imagem condizente com uma obra em que se refere Diderot. Já consta desta capa a serpente, como símbolo clássico do mal e da metamorfose.

Dibujo de portada para el opúsculo La Novia de Gafas (1987), una hoja A4 azul editada en Seixal por el Projecto Poros (desenvuelto por el poeta Luís Filipe Parrado, João Paulo Baltazar, periodista y locutor de radio, y Paulo Buchinho, artista plástico). Muestra a una Adília joven a punto de ser devorada, en una pose entre estudiosa y observadora, pasiva y delicada. El dibujo vertical tuvo que renunciar a los monstruos por falta de espacio: suerte la de ellos, pues así no cayeron en las manos de la impasible novia…

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Desenho de capa para o opúsculo A Namorada de Óculos (1987), uma folha A4 azul editada no Seixal pelo Projecto Poros (desenvolvido pelo poeta Luís Filipe Parrado, João Paulo Baltazar, jornalista e radialista, e Paulo Buchinho, artista plástico). Uma Adília jovem em vias de ser devorada, numa atitude entre o estudioso e o observador, passivo e delicado. O desenho vertical teve de abdicar dos monstros por falta de espaço: sorte a deles, que assim não caíram nas mãos da impassível namorada…

Perteneciendo al mismo opúsculo de 1987, La Novia de Gafas, Adília es atravesada por una serpiente, un monstruo, el mal, que no sabemos si nace de adentro o si viene de afuera. Adília es atravesada por el caos, pero no parece desesperada sino que tiene un aire impasible, como imaginada en parálisis frente al mal, desamparada por los ataques de todas las direcciones. Una joven Adília, porque son muchas las historias y las memorias que ella deslinda.

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Pertencente ao mesmo opúsculo de 1987, A namorada de óculos, Adília é atravessada por uma serpente, um monstro, o mal, que não sabemos se nasce de dentro, vem de fora? como os corvos? Ao mesmo tempo, Adília está com ar impassível, como que imaginada em paralisia em face do mal, em desamparo diante de ataques de todas as direções. Uma jovem Adília, pois são muitas as histórias e as memórias que ela deslinda.

El dibujo para la portada de El Escote de la Dama de Espadas (Novelas), volumen poético publicado en 1988 por la Imprensa-Nacional Casa da Moeda, pone en escena una posible Alice de Lewis Carroll haciendo el papel de Sofia de la Condessa de Ségur, pero sin autoridad ante quien prestar cuentas. Una niña algo introspectiva, en un espacio entre laboratorio y casa, con cierta curiosidad por la serpiente, en un descanso de una de las actividades a que las jóvenes mujeres eran obligadas: la costura. En el intervalo entre dos aburrimientos, la niña se interesa por la investigación de lo que no tiene fórmula: el mal.

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O desenho para capa de O Decote da Dama de Espadas (Romances), volume poético 1988 publicado pela Imprensa-Nacional Casa da Moeda, põe em cena uma possível Alice de Lewis Carroll a fazer o papel de Sofia da Condessa de Ségur, mas sem autoridade a quem prestar contas. Criança algo introspetiva, num espaço entre o laboratório e a casa, com uma certa curiosidade pela serpente, num intervalo de atividades a que as jovens mulheres eram obrigadas, a costura. No intervalo entre dois aborrecimentos, a criança interessa-se pela investigação daquilo que não tem fórmula, o mal.

La gata Anita de Adília Lopes es la estrella de la portada de Comprimidos (opúsculo de 2015 distribuido con el n.º 20 de la revista literaria Telhados de vidro) además de haber sido la protagonista de tantos de sus versos.Por encima de Anita están tortas, las célebres magdalenas de Marcel Proust, descritas en uno de los fragmentos del libro, que tienen realmente la forma de vieiras (conchas) y eran vendidas, según información de la autora, en la pastelería Colombo, ubicada en la Avenida da República, en Lisboa. Comprimidos es un libro breve y aforístico, y las conchas pueden referirse no solamente a un universo íntimo sino también corto y denso.

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A gata Anita de Adília Lopes é a estrela da capa de Comprimidos, opúsculo de 2015 distribuído com o n.º 20 da revista literária Telhados de vidro, para além de o ter sido de tantos dos seus versos.Por cima de Anita estão bolos, as célebres madalenas de Marcel Proust, descritas num dos fragmentos do livro, que têm realmente a forma de vieiras (conchas) e eram vendidas, segundo informação da autora, na pastelaria Colombo, sita na avenida da República, Lisboa. Comprimidos é um livro breve e aforismático e as conchas podem referir-se não apenas a uma universo íntimo mas também curto e denso.