Pedro Meneses

La ponencia comenzará por analizar poemas de Adília Lopes en que la maldad se manifiesta. Tal maldad, en la mayoría de las circunstancias, es psicológica e interpersonal, narrada en episodios de naturaleza autobiográfica. Esta maldad se expresa como vanidad, hipocresía social (“as fodas que se querem bodas”, O regresso de Chamilly), o la voluntad de poder, denunciadas igualmente en el mundo del arte. El mundo no tiende a la perfección, por más publicidad que la literatura (y, en especial, la poesía) haga en ese sentido. En la poesía de Adília, la existencia de la persona siempre se sobrepuso a la grandeza presupuesta en la noción de autor (Diogo). De esta superposición emergen el crudo y el cómico, el cómico como contención del crudo. Finalmente, pensaríamos que la forma breve, el aforismo, la descripción zen-haiku, la memoria sintética, consubstancian una ética (“na vida e no poema dar sempre um passo menos”, Apanhar ar) y un deseo que parecen comprobar la aceptación del pasado: las fotografías, las tías, la mamá, conviven, a pesar de un cierto halo fantasmático, al lado del texto y evidencian la posibilidad de ser “mulher-a-dias” (para-doxa), o sea, mortal que vive cada día dedicado a textos, lecturas y al exigente oficio de la bondad. Tal vez Adília sea la leyenda más correcta para sus fotografías de infancia, el nombre de guerra con el cual la autora civil aceptó vivir sin tumulto la persona que siempre fue.

– – – – –

A presente comunicação começará por analisar poemas de Adília Lopes em que a maldade se insinua. Essa maldade, na maior parte das circunstâncias, é psicológica e interpessoal, narrada em episódios de natureza autobiográfica. Manifesta-se como vaidade, hipocrisia social (“as fodas que sempre se querem bodas”, O regresso de Chamilly) ou a descarada vontade de poder, também denunciadas no mundo da arte. O mundo não tende para a perfeição, por mais publicidade que seja feita nesse sentido (Adorno). Na poesia de Adília, a pessoa sempre se sobrepôs à grandeza pressuposta na noção de autor (Diogo), do que avultam o cru e o cómico, e o cómico como contenção do cru. Por fim, gostaríamos de pensar que a forma breve, o aforismo ou a descrição zen-haiku, consubstanciam uma ética e um desejo (segundo o Roland Barthes final) cada vez mais consistente (“Na vida e no poema / dar menos um passo”, Apanhar ar) e que comprova a aceitação do passado: as fotografias, as tias, a mãe, convivem, apesar de certo halo fantasmático, ao lado do texto e sublinham a possibilidade de ser “mulher-a-dias” (para-doxa), isto é, humano que vive cada dia entregue a textos, leituras e ao exigente ofício da bondade. Talvez Adília seja a legenda mais acertada para as suas fotografias de infância, o nome de guerra com que a autora civil aceitou viver sem tumulto a pessoa que sempre foi.